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Por que há tantas palavras de origem árabe que começam com “al”?

A influência do árabe na nossa língua é enorme

Por Cláudio Moreno
Atualizado em 22 fev 2024, 10h53 - Publicado em 18 abr 2011, 18h59

Almanaque, almôndega, alfândega, almofada, aldeia, alface, algema, algodão, alfaiate…

Enorme foi a contribuição dos árabes para o vocabulário português e espanhol durante sua permanência de sete séculos na Península Ibérica. O detalhe curioso é que esse al fixado no início das palavras era, na verdade, o artigo definido da língua árabe. “Alquimia”, por exemplo, quer dizer “a química”. Na língua de origem, o al acompanha todo e qualquer substantivo, não importa se masculino ou feminino, singular ou plural. Além disso, vem sempre colado à palavra a que se refere – não é possível inserir entre ele e o substantivo qualquer outro vocábulo, como fazemos em nosso idioma: o teu livro, o único livro etc. Outro fato marcante é que esse artigo aparece também em palavras da língua portuguesa que não começam com al. Isso porque sua segunda letra, o “l”, pode ser alterada para que seu som se harmonize com a consoante a seguir. Foi assim que ar-ruzz virou “arroz” e az-zayt, “azeite”.

Tudo isso reforça, para quem ouve, a ideia de que o artigo faz parte da palavra. E nós acabamos assimilando isso e juntando com os nossos artigos. Por isso ninguém fala “o godão” ou “a zeitona”. Da mesma forma, por isso o livro sagrado do Islã pode ser chamado de “Alcorão” ou “Corão”.

ÁLGEBRA
Vem de al-jabr, ou “a arte de reunir ossos quebrados ou deslocados”. Sua passagem da medicina para a matemática se deu com o livro Al-jabr w’al muqabalah, publicado no ano 825 pelo matemático Al Khwarizmi (cujo nome nos deu o vocábulo “algarismo”). De resto, o significado original de al-jabr ingressou também no espanhol, que chamava de “algebrista” o cirurgião-barbeiro especializado em remendar ossos quebrados ou luxados, como se pode ler em Dom Quixote, de Cervantes.

ARROBA
Vem de ar-rub, a quarta parte, porque correspondia a essa fração de um quintal, outra medida antiga. A equivalência em quilos e em litros varia muito, dependendo da região e dos materiais medidos. Nos países de língua espanhola ela vale algo como 11,5 kg, enquanto no Brasil e em Portugal são 14,79 kg – mas no comércio de carne bovina o valor é arredondado para 15 kg. Como era usado o símbolo @ para representá-la, este ficou sendo, nos países ibéricos, o nome do sinal usado mundialmente nos endereços eletrônicos. (O original inglês quer dizer at, “em”, termo bem mais apropriado para endereços!)

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ALMANAQUE
Tem várias hipóteses para sua origem. A mais sóbria diz que vem de al-manaj, o círculo dos meses – manaj parece ser a arabização do vocábulo latino manacus, que designava o círculo do relógio solar que marca a sucessão dos meses. Combina com a finalidade primordial dos almanaques, que sempre foi a de publicar o calendário com as estações, a lunação, os eclipses etc. A outra hipótese, muito mais imaginativa, também passa pelos árabes: o vocábulo viria de al-manah – lugar onde se para numa viagem, local onde o camelo descansa, referindo-se às 12 paradas que a Terra faria no seu trajeto ao redor do Sol, nas casas do zodíaco, e lembrando, ao mesmo tempo, o local onde os condutores de caravanas estacionavam para descansar e trocar entre si notícias, histórias curiosas e fatos pitorescos, bem ao modo dos almanaques modernos

ÁLCOOL
Vem de al-kohl, nome do fino e escuro pó de antimônio que as mulheres usam até hoje para maquilar os olhos. Júlio César deve tê-lo visto embelezando os olhos de Cleópatra, pois sua origem é egípcia. O vocábulo entrou em nossa língua para designar qualquer pó que, como o kohl, fosse obtido pela vaporização de um sólido. A partir do século 17, passou naturalmente a abranger o produto da destilação

AZAR
Vem de az-zar, “flor” – significando, na verdade, dado ou jogo de dados, porque esses cubos tinham a figura de uma flor onde hoje temos o seis. Pela ligação óbvia do dado com a ideia de probabilidade, o termo passou a indicar o elemento imprevisto nos acontecimentos. Embora abrangesse tanto a boa quanto a má sorte (como no francês hasard, acaso), no português moderno indica principalmente sorte contrária. Na Espanha, porém, até hoje chama-se de azahar a flor branca da laranjeira.

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