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Como é a caça a baleias?

A perseguição pode demorar horas. A escolha da baleia a ser alvejada é aleatória e o tiro é dado no momento em que ela sobe à superfície para respirar

Por Yuri Vasconcelos e Luiza Monteiro
Atualizado em 22 fev 2024, 10h15 - Publicado em 10 mar 2017, 12h26

Numa caçada cruel, elas são mortas a tiros e com um arpão explosivo e depois têm a carne processada em alto-mar, numa espécie de navio-frigorífico. A matança organizada do maior mamífero do planeta teve início ainda no século 12, mas intensificou-se no século passado, quando mais de 2 milhões de animais foram mortos, levando várias espécies ao risco de extinção.

Não à toa, em 1986, a Comissão Baleeira Internacional (CBI) declarou uma moratória internacional por tempo indeterminado para a caça comercial à baleia. Mas Noruega e Islândia estão entre os países que desrespeitam essa decisão. E, segundo anúncio feito nesta quarta-feira (26), o Japão também entrará nessa lista em 2019.

O país é membro da comissão desde 1951 e, até então, só permitia a caça para pesquisa científica. Mas, a partir de agosto de 2019, o Japão vai sair da CBI e vai retomar a prática de matar baleias para fins comerciais. De acordo com Yoshihide Suga, porta-voz do governo japonês, a caça será feita dentro do mar territorial do Japão e de sua zona econômica exclusiva. O país asiático deixará de fazer abates nas águas da Antártida e do Hemisfério Sul. 

E o Brasil?

No passado, o litoral brasileiro também foi cenário para a cruel caça a baleias. O porto de Cabedelo, na Paraíba, era um dos mais ativos e servia de sede para a empresa Copesbra, que, em seus 75 anos de atuação, matou milhares de baleias de várias espécies – o óleo retirado da gordura do bicho era usado para iluminação e preparo de tinta, entre outras coisas.

Um decreto do governo proibiu a caça no país em 1986 e, hoje, o Brasil é uma das nações mais ativas na luta contra a caça aos cetáceos. Em 2007, por exemplo, o Brasil aderiu ao grande protesto diplomático em conjunto com outros 30 países contra a carnificina promovida pelo Japão.

Veja a seguir como é feita essa bárbara caçada.

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Mar de sangue

Todos os anos, baleeiros assassinam de forma injustificada e cruel quase 2,5 mil cetáceos

(Luiz Iria/Mundo Estranho)

1. Para localizar as baleias, homens com binóculos sobem ao topo do mastro dos barcos arpoadores. A busca concentra-se em áreas frequentadas pelas principais espécies caçadas hoje, como uma vasta região do Pacífico Sul.

2. Assim que um grupo de cetáceos é localizado, tem início a caçada. A perseguição pode demorar horas, levando as baleias à exaustão. Quando o animal mostra sinais de cansaço, os caçadores se aproximam o máximo que podem para tentar arpoá-lo.

3. O arpão é disparado de um canhão localizado na frente da embarcação quando o animal está a cerca de 30 metros de distância. A escolha da baleia a ser alvejada é aleatória e o tiro é dado no momento em que ela sobe à superfície para respirar.

4. O arpão tem uma granada na ponta para aniquilar a baleia mais rapidamente. Após penetrar na pele do animal cerca de 30 centímetros, ele se abre, feito um guarda-chuva, cravando quatro ganchos na carne do cetáceo. Em seguida, a carga explosiva é detonada.

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5. Atingida, a baleia se debate e mergulha, numa tentativa agonizante de se soltar do arpão, que é preso a um cabo de aço com até 100 metros de comprimento. Embora cause sérios ferimentos, o arpão não mata a baleia na hora.

6. Para concluir a carnificina, os caçadores atiram com rifles e com arpões secundários. Eles alegam que, em dois minutos, as baleias já estão mortas. Mas entidades protetoras dos animais afirmam que os cetáceos passam por uma lenta agonia, levando mais de uma hora para morrer.

7. Depois de morto, o animal é recolhido para junto do barco pelo cabo de aço. Ele é preso numa das laterais da embarcação, que já parte para uma nova perseguição. Dependendo de seu porte, o barco arpoador pode levar de duas a quatro baleias mortas para o navio-fábrica, onde os animais são processados.

(Luiz Iria/Mundo Estranho)

8. Enquanto o sangue é derramado no mar, o navio-fábrica, líder da expedição, navega pelas redondezas, aguardando a chegada dos animais abatidos. No caso dos japoneses, esse navio é o Nishin-maru, uma traineira de pesca que leva 112 tripulantes.

9. A transferência das vítimas para o navio-fábrica rola por uma rampa na traseira do barco. O animal é preso a um cabo de aço e içado por um guincho. Quando chega ao convés, começa o trabalho dos açougueiros.

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10. Os animais são medidos e pesados antes de serem retalhados.

11. Em seguida, o animal começa a ser descarnado e desossado. A camada de gordura é separada do corpo, fatiada e processada em máquinas que a transformam em óleo. Depois de pronto, o líquido é armazenado em tonéis..

12. Com auxílio de facas afiadas, a carne, a língua e as nadadeiras são cortadas por açougueiros profissionais. Em seguida, seguem para a casa de carnes, onde são industrializadas, empacotadas ou enlatadas para venda aos consumidores.

13. Até os ossos são aproveitados. Eles são moídos para fabricação de farelo para ração e fertilizante.

(Luiz Iria/Mundo Estranho)

Frota assassina

Uma frota baleeira é formada por barcos arpoadores, que fazem a caça em si, e um grande navio-fábrica, que se encarrega da industrialização da carne do animal. Os arpoadores, cujo número pode variar dependendo do porte da caçada, seguem na frente, perfilados em linha e distantes 11 quilômetros um do outro

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Barco arpoador – 70 m de comprimento e 740 toneladas
Navio-fábrica – 130 m de comprimento e 8 mil toneladas

Área de risco

Sul do Pacífico concentra a matança das espécies mais caçadas

(Luiz Iria/Mundo Estranho)

I) Espécie: Fin

Tamanho – até 22 metros
Peso – até 80 toneladas
Quantas restam – 55 mil

II) Espécie: Baleia-de-bryde

Tamanho – até 14,5 metros
Peso – até 20 toneladas
Quantas restam – 90 mil

III) Espécie: Sei

Tamanho – até 18 metros
Peso – até 30 toneladas
Quantas restam – 55 mil

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IV) Espécie: Cachalote

Tamanho – até 18 metros
Peso – até 50 toneladas
Quantas restam – 360 mil

V) Espécie: Jubarte

Tamanho – até 15 metros
Peso – até 30 toneladas
Quantas restam – 35 mil

VI) Espécie: Minke

Tamanho – até 10 metros
Peso – até 10 toneladas
Quantas restam – mais de 1 milhão

Brutalidade sem fim

Os golfinhos também são barbaramente caçados

(Luiz Iria/Mundo Estranho)

1) Tradição macabra

A matança de golfinhos rola em três áreas: nas ilhas Faroe, território dinamarquês no Atlântico Norte; em Taiji, na costa do Japão; e nas ilhas Salomão, no oceano Pacífico. Estima-se que mais de mil golfinhos-pilotos (Globicephala melaena) sejam barbaramente assassinados todos os anos apenas nas ilhas Faroe (veja no mapa acima). A caçada é feita pelos moradores da própria comunidade, numa espécie de rito de passagem dos jovens para a idade adulta.

2) Encurralados

Logo que os golfinhos são avistados, os pescadores rumam em botes na direção dos animais, que são dóceis e pacíficos. Os caras então fazem um semicírculo com os botes para encurralar o bando, conduzindo os bichos para uma baía, de forma que não escapem.

3) Ataque brutal

Os jovens trucidam os animais com facas e arpões. Os animais se contorcem de dor e podem levar um tempão para morrer. Enquanto isso, os sobreviventes ficam juntos aos outros, sem esboçar qualquer reação agressiva nem tentar fugir.

4) Água escarlate

Enquanto os animais mortos são levados para praia ou colocados dentro dos barcos, a sangueira vai tingindo o mar de vermelho. Infelizmente, a Comissão Baleeira Internacional não controla a matança de golfinhos, pois ela rola na costa dos países e não em águas internacionais, como no caso das baleias

FONTES John Frizell, coordenador internacional da campanha de baleias do Greenpeace; Whale and Dolphin Conservation Society; American Cetacean Society.

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