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11 memes que mudaram o mundo

Tem horas que a brincadeira fica séria. Conheça as piadas, as montagens e as remixes que saíram do virtual e tiveram impacto no mundo real

Por Kleyson Barbosa
Atualizado em 22 fev 2024, 10h10 - Publicado em 19 out 2017, 11h55

MAS CÊ TÁ BRAVO, PUTIN?

Compartilhar um meme pode ser uma forma de protesto? Ô se pode. Pode ser uma forma de reforçar a própria identidade e o senso de comunidade, mesmo diante das piores atrocidades? Pergunte para os gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros da Rússia. Lá, tornou-se proibido postar a imagem acima, criada em 2011, que mostra o presidente Vladimir Putin maquiado, sobre um fundo com as cores do arco-íris – símbolo dos direitos LGBT.

O veto é mais um capítulo na crescente onda de intolerância que assola opaís. As leis locais não criminalizam a homofobia, a lesbofobia e a transfobia. Ser gay era proibido até 1993, mas, em tempos recentes, voltou a ser censurado socialmente. Em 2013, foi aprovada uma nova lei que censura qualquer informação que considere aceitável a homossexualidade, a bissexualidade ou a transgeneridade. Foi aí que o compartilhamento do “Putin drag queen” bombou.

Neste ano, o ministério da Justiça o incluiu numa lista de mais de 4 mil itens considerados “material extremista”, como gravações radiofônicas e textos jornalísticos que questionam o governo. A punição é de 15 dias de prisão e multa equivalente a R$ 166. Mas o tiro saiu pela culatra: a montagem se tornou um símbolo da causa das minorias no país, replicada por usuários de redes sociais de todo o mundo e organizações pró-direitos humanos.

O “Putin drag” voltou a ganhar força especialmente em abril, quando vazaram informações de que a Chechênia (uma das repúblicas que integram a Rússia) havia criado campos de concentração clandestinos para gays. Pelo menos 100 homens foram aprisionados, torturados e forçados a trabalhar. Alguns foram até assassinados. Ativistas têm usado a imagem para confrontar o governo e solicitar doações a ONGs como a Anistia Internacional.

(Flávio Bá/Mundo Estranho)

NAS PARADAS DE SUCESSO

Já teve meme na Hot 100 da Billboard – a mais tradicional parada de sucessos do mundo. Foi a “Bed Intruder Song”, uma remixagem de hip-hop em cima da hilária entrevista de uma testemunha que viu um homem invadir a casa de uma mulher em Huntsville, nos EUA. Criada pelos irmãos Gregory, em Nova York, a faixa vendeu mais de 90 mil cópias no iTunes em 2010, chegando à 39ª posição na parada de singles desse serviço – um fato inédito. Desde então, a indústria fonográfica tem ficado atenta a novos talentos online da remixagem, tanto para recrutar seus serviços quanto para usá-los como divulgação para faixas oficiais. No Brasil, fenômeno semelhante foi ofunkeiro Vitinho, cuja música-meme “Sou Foda” foi a 4ª que mais arrecadou ao vivo em 2012, segundo o Ecad. O “funk do gás” também foi bem-sucedido no Carnaval deste ano

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O BALDE DE GELO PEGOU FOGO

Em 2014, o jornalista norte-americano Matt Lauer tomou um banho de água fria em seu programa, o Today Show, e desafiou a apresentadora Martha Stewart (uma espécie de Ana Maria Braga dos EUA) a fazer o mesmo – e doar dinheiro a uma causa filantrópica. Ele se inspirou numa brincadeira que estava começando a viralizar, em que cada participante escolhia uma instituição para ajudar (e divulgar).

Em julho daquele ano, porém, o meme se consolidou com duas regras: banho era feito com um balde de gelo e a doação era destinada à ASL Association, que levanta fundos para o tratamento, pesquisa e conscientização do público sobre a ELA (esclerose laterial amiotrófica). Nascia um dos virais mais bem-sucedidos de todos os tempos, replicado tanto por famosos quanto por anônimos.

Os vídeos do desafio foram vistos mais de 10 bilhões de vezes, os memesbombaram e a arrecadação também. A brincadeira rendeu mais de US$ 1 milhão à ASL Association. Parte da grana ajudou pesquisadores da Universidade Johns Hopkins (EUA) a descobrir, em 2015, uma proteína queestá ligada à morte de células no cérebro e na medula espinhal dos pacientes, por exemplo.

O BERÇO DA FÚRIA

É impossível falar de memes sem mencionar o 4chan, o maior fórum de imagens do mundo, onde tantos deles são lançados. Ele foi criado despretensiosamente em 2003 por um nova-iorquino de apenas 15 anos para falar sobre mangás e animes, mas seu ambiente livre de censura (ou autocensura) atraiu todo tipo de mente inquieta – como o criador dos Rage Comics, que imortalizaram memes como Trollface, Fuuuuuuu e Rage Guy. Mas o impacto do 4chan vai muito além dessas piadas. O mesmo caldo anárquico que permitiu imagens hilárias sem sentido serviu para gestar omais influente (e temido) grupo de ativismo hacker de todos os tempos: Anonymous.

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GATINHO = ATIVISMO DIGITAL

Aquela foto fofinha de um filhotinho de gato pode derrubar um governo? Talvez não diretamente. Mas o pesquisador de mídia norte-americano Ethan Zuckerman, diretor do Centro de Mídia Cívica do MIT, conseguiu estabelecer uma relação entre os memes e o ativismo online.

Segundo sua teoria, o grande público está interessado apenas em atividades banais, como compartilhamento de pornografias e memes de gatinhos bonitos, como o LOLcats. Mas as ferramentas desenvolvidas para isso, como Facebook, Tumblr e Twitter, são muito úteis (e baratas) para os ativistas. Além disso, tornam suas ações imunes a represálias das autoridades: um governo dificilmente fecharia uma plataforma dessas porque também iria prejudicar quem só quer olhar para gatinhos bonitos, oras! Irritá-los só serviria para espalhar a revolta

O fenômeno não é novo. O primeiro episódio que ficou famoso foi a deposição do presidente Joseph Estrada, das Filipinas, em 2001, acusado de corrupção. Mobilizados por mensagens de texto (mais de 7 milhões em uma única semana), os filipinos foram às ruas pedindo seu impeachment. Essa capacidade de coordenação para uma resposta tão rápida alarmou os membros do Legislativo, que derrubaram Estrada em 20 de janeiro. fenômeno se repetiu nos anos seguintes, como na saída do primeiro-ministro da Espanha em 2004, nos protestos anti-corrupção na China em 2008 e na Primavera Árabe em 2010.

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O ERRO QUE DEU CERTO

Quando a pintora amadora Cecilia Giménez, de 81 anos, tentou “restaurar” oafresco Ecce Homo, em um santuário na cidade de Borja, na Espanha, acabou criando uma imagem que viralizaria mundo afora: um Jesus meio torto, estranho e mal desenhado. Não fosse pelos memes que gerou, o Cristo de Borja seria só um pequeno desastre artístico inconsequente – a destruição de um patrimônio de quase 90 anos. Mas, graças às piadas, virou um inusitado ponto turístico, aquecendo a economia da cidadezinha de 5 mil habitantes. Há vinícolas disputando o direito da imagem para estampar em seus vinhos! E Cecilia ganha 49% do valor arrecadado com os souvenirs queusam a imagem. Com o dinheiro, ela cuida do filho de 50 anos, que tem paralisia cerebral.

OS FÃS NUNCA DESISTIRAM DELE

Mais um caso que impactou a indústria da música. O cantor pop Rick Astley estava sumido desde o início dos anos 90, após bombar com o hit-chiclete “Never Gonna Give You Up”. Mas, em 2008, a canção voltou a ser tocada graças à pegadinha conhecida como rickrolling: links de notícias chamativas que, na verdade, levavam ao clipe da música no YouTube. Graças ao meme, ele foi visto mais de 75 milhões de vezes – o próprio Astley admitiu ter sido enganado algumas vezes. Mas o final foi feliz: com tanta atenção, ele conseguiu retomar a carreira, lançando um novo álbum em 2016, após mais de 20 anos sem gravar. O disco 50 estreou em primeiro lugar no Reino Unido. No Brasil, um caso similar foi o da cantora Gretchen, queinvoluntariamente se tornou musa de inúmeros gifs viu seu cachê para presença vip subir bastante e até fez um clipe com a cantora norte-americana Katy Perry.

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A PRESIDENTA DA ZOEIRA

Era para ser apenas uma piada. Em 2011, o publicitário Jeferson Monteiro, da cidade de Mesquita (RJ), criou no Twitter (e posteriormente no Facebook) o perfil fake Dilma Bolada. Sem saber, mudaria para sempre o modo como se faz propaganda política no Brasil. Com seu jeito debochado, que falava de Brasília, mas também de novela e futebol, a Dilma “interpretada” por Jeferson ajudou a suavizar (e, por isso mesmo, popularizar) a imagem da petista.

Em um país em que nos habituamos a filtrar os acontecimentos políticos por meio dos memes, é fácil entender por que Dilma Bolada deu tão certo. Em meio a piadas e bordões como “Rainha das Américas” e “Mãe do Povo”, ela ajudou a viralizar temas políticos espinhosos. Ficou tão popular que muitas pessoas chegavam a confundi-la com o perfil oficial da ex-presidenta, pedindo ajuda ou dando sugestões de governo.

O fenômeno de marketing chamou a atenção do PT, que se aproximou de Jeferson em diversos momentos, especialmente nas eleições de 2014. Outros partidos também copiaram a fórmula, lançando suas próprias versões “zoeira” de seus afiliados ou então perfis dos rivais que evidenciam suas falhas. A tendência chegou a tal ponto que, em 2015, um deputado propôs, no Congresso, uma lei que multava criadores de perfis fakes de políticos.

VALE-TUDO NAS ELEIÇÕES DOS EUA

Memes, quem diria, podem ter determinado o rumo das eleições presidenciais nos EUA. Essa teoria virou tema de pesquisa desde o sucesso de Barack Obama em 2008. Ele foi um dos primeiros presidenciáveis a usar ativamente redes como Twitter, YouTube e Facebook. Seu material de campanha também fez amplo uso da estética e da linguagem típica dos memes. Não por acaso, teve votação expressiva entre o público jovem.

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Pesquisas posteriores à sua vitória provaram que os dois fenômenos estavam mesmo interligados. O instituto Pew Research aferiu que o número de norte-americanos que usava a internet para se envolver no processo político subiu de 37%, em 2004, para 46% naquele ano. Em relação a 2000, a audiência das notícias políticas online havia duplicado – e mais de 74% das pessoas diziam usar a web para receber notícias sobre a disputa.

No ano passado, a guerra de memes foi explícita – e tão intensa que analistas chegaram a declarar que ela estava “envenenando” a democracia. A candidata Hillary Clinton, por exemplo, foi soterrada por imagens que a comparavam com zumbis e robôs, e o pré-candidato Ted Cruz chegou a ser associado ao serial killer Zodíaco. O atual presidente Donald Trump e o pré-candidato Bernie Sanders também sofreram com montagens negativas.

QUE SAPÃO (#SQN)

Outro meme que saiu das redes sociais para invadir as discussões acadêmicas. No ano passado, a Liga Antidifamação dos EUA (um importante órgão de análise da liberdade de expressão no país) incluiu Pepe The Frog na lista de símbolos do ódio (como a suástica, por exemplo). Tudo porque omeme, originalmente criado em 2005 numa HQ online, passou a ser adotado recentemente pela extrema direita norte-americana, que o replicou vestido de Adolf Hitler, zombando dos ataques de 11 de Setembro ou do Holocausto. Usuários do 4chan e algumas celebridades iniciaram uma campanha para “resgatar” o sapo, voltando a utilizá-lo para fazer piadas inofensivas sobre dia a dia.

EMBURRADO E ENDINHEIRADO

Memes também têm impacto na economia – gerando novos produtos, novos empregos e novas fortunas. Que o diga a dona do Grumpy Cat, considerado pela revista Business Insider o meme que mais faturou na história. O gato emburrado (na verdade, uma fêmea chamada Tardar Sauce) viralizou de tal maneira em 2012 que sua dona, Tabatha Bundesen, teve de abandonar trabalho como garçonete para cuidar da carreira dela. Desde então, seu rosto enfezado, causado por uma doença chamada nanismo felino, apareceu em livros, marcas de café, cartões, roupinhas e ração para gatos. Grumpy também apareceu em comerciais e em seu próprio filme, de 2014. Estima-se que, em apenas dois anos, Tabatha tenha faturado US$ 100 milhões.

FONTES Sites CNN, El País, The Telegraph, Entertainment Weekly, Foreign Affairs, Business Insider, The Atlantic, The New York Times, Forbes, Daily Mail, Nature Genetics e UFF

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